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terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ausência




Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Vinicius de Moraes








Que passem os minutos, dias e anos...
Todas as estações do tempo! 
Que eu viva, qual tolo, todas as ilusões
pueris de sentimento... 

Amar-te-ei, em todas as épocas,
em todo momento
Que passem as águas por muitas pontes
e que debruce a saudade por muitas
serras e montes, amar-te-ei, 
como se fosse a primeira vez e única,
apesar das tantas aventuras! 
Ainda além deste céu, nas alturas.
Eternamente...
Ainda que outro alguém o tenha
entre lençóis confidentes, 
mesmo que os beijos sejam molhados
e quentes, 
à parte, nossa alma vaga enamorada,
sobre qualquer prazer da carne ou qualquer
entrega fugaz . 
Eternas, apaixonadas 
Amar-te-ei, sobre qualquer dor que me pese
o orgulho ferido, o despeito revolvido! 
Sobre qualquer punhalada em meu coração, 
sobre qualquer distância a nós imputada...
Porque sei, amor de mim , que ainda assim... 
Não é pequeno o nosso comprometimento . 
Ah! Soubessem todos o tamanho ! 
Pobre carne, pequeno tempo !

Wolfgang Amadeus Mozart